terça-feira, 23 de junho de 2009

THE FLASHES - SPFW 4 OU JÁ OUVIU


- Algumas pessoas comentaram aqui que a ótima coleção de Herchcovitch seria uma cópia remix das duas últimas temporadas da Dolce & Gabbana. Esse assunto de cópia é um saco, digo logo na lata, mas vamos lá:
1. Sim, a Dolce & Gabbana, assim como a Balenciaga, estão entre as grifes mais influentes das últimas décadas.Não só por questões criativas mas também por questões comerciais,pencas e montanhas de dindim em jogo, certo? Portanto, é muito natural que elementos de estilo que aparecem nas coleções dessas marcas sejam relidos por designers do mundo inteiro, inclusive nas próprias semanas de moda de Paris e Milão. Alcino, que acompanha a temporada na gringa, já escreveu sobre isso.
2. Ombreiras: gente, as ombreiras vêm, no mínimo, lá dos anos 80. As reedições foram inúmeras,incontáveis. Pequenas, grandes, redondas, estilo Mickey, quadradas, gigantes, vem que tem. Então o Herchs copiou a Dolce, que copiou o Margiela, que copiou a Balenciaga, que copiou os Cavaleiros do Zodíaco, que copiaram as armaduras medievais...Tipo as popozudas, as preparadas e o baile todo.
3. Não existe originalidade absoluta na moda. Dona Regina Guerreiro, que viveu as últimas décadas vendo os maiores desfiles de Paris e Milão, disse o seguinte ontem, numa entrevista na TV: "A moda está presa numa série de reedições de décadas. Voltamos aos 80, aos 70, aos 20... Eu ainda não sei como será a mulher 2000". Ou seja, se a moda como sistema se retroalimenta de seu próprio passado recente, fica difícil dizer (salvo raras exceções) Fulano foi o primeiro a usar isso. Ou seja, a repetição e a reedição estão nas bases de funcionamento, nos fundamentos da moda.
4.Dados esses elementos recorrentes, é natural que diversos estilistas façam releituras dos mesmos itens. Isso pode ocorrer entre gaps longos ou no mesmo período porque, vale a pena lembrar, TODOS os estilistas das grandes semanas de moda estão inseridos num contexto comercial que trabalha sim com tendências. A interpretação desses elementos, no entanto, pode ter resultados dos mais diversos.
5. Cópia é algo literal. Talvez não idêntico, mas literal. Já vimos muito disso acontecer nas passarelas, mas a definição não se aplica à coleção de Herchcovitch. A diferença brutal na escolha dos materiais, no conjunto dos shapes, a introdução do esportivo (no lugar do luxo tipo nobreza "decadence" da Dolce),o resultado imagético, a interpretação do sexy, enfim beeeeibes, a lista é grande.
Sem essa de pé-de-breque, camaradas.

Escrito por: Vivian Whiteman, 30, é jornalista cultural desde 1998 e repórter da editoria de Moda da Folha desde 2005.
Na foto com Alcino Leite Neto.

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